6 lições que aprendi em minha jornada de recolocação profissional

Não existe recolocação profissional para quem está acomodado. Excelência é multidisciplinar e o recrutador/entrevistador sabe disso.
Ploomes
13/02/2019 | 12 min
Jornada do herói na recolocação profissional

E assim começa minha jornada de recolocação profissional.

Com 27 anos, era um profissional de Educação Física, pós graduado, com diplomas de grandes instituições (Unesp – Rio Claro e Hospital Israelita Albert Einstein).

Tive a experiência de ter passado um ano na Europa em um intercâmbio acadêmico, conhecendo o que havia de mais moderno na área esportiva. Isso me tornou um profissional desejado no mercado.

Estava trabalhando em um grande colégio internacional na cidade de São Paulo, onde provavelmente teria uma carreira longa e estável. Não haviam críticas quanto a minha performance, na realidade, haviam bons (e saudosos) elogios. Eu estava bem e confortável com minha profissão.

Chamado para a aventura

Já tinha experiência de anos anteriores e sabia que observar essas aulas dava bastante trabalho pois, eu tomava nota em um pedaço de papel. Papel, piscina e crianças não combinam.

Em meio ao conforto de uma carreira estável, surgiu uma faísca. Minha turma de crianças foi fazer aulas de natação externas em uma academia da cidade. Meu trabalho parecia simples, enquanto os professores da academia estavam com os alunos dentro da água, eu deveria observar e tomar nota da habilidade de todos.

Refletindo sobre esse problema e buscando evoluir, saí em busca de um aplicativo que me permitisse cadastrar meus critérios de avaliação e então avaliar meu grupo usando meu celular. Não queria mais perder meu tempo e comprometer meu trabalho tentando puxar essas avaliações da memória. Para minha surpresa não havia nada parecido. Decidi então fazer um aplicativo eu mesmo. Não podia ser tão difícil assim, certo?

E essa foi a faísca que deu início a uma jornada de recolocação profissional  a qual me trouxe a ser Coordenador de Desenvolvimento Mobile na Ploomes.

1ª Lição – Reflita sobre sua prática profissional.

Não existe recolocação profissional para quem está acomodado. Excelência é multidisciplinar e o recrutador/entrevistador sabe disso. Ele não vai te dar uma chance em outra área se você estiver acomodado na sua. Jamais eu teria oportunidade de me recolocar se não fosse uma inquietude sobre um processo que eu percebia como ineficiente. São nessas coisas que podemos empreender em nossa carreira e nos tornar profissionais diferenciados e desejados pelo mercado.

No meu caso, a inquietude surgiu em parar e olhar para os relatórios sobre o nado de meus alunos e perceber que eles podiam ser mais detalhados e documentados. Isso abriu o mundo pra mim, me deu outros olhos. Olhe para sua atuação, o que pode ser melhorado? Por quê? O que poderia te ajudar a ser um profissional melhor onde você está? Caso seu caminho seja realmente uma recolocação profissional, o primeiro passo é ser um melhor profissional onde você está. Essa é a base.

Recusa ao chamado e Encontro com o mentor

Uma coisa eu posso dizer sobre programação: É um mundo diferente e assustador para um profissional de educação física. Minha primeira reação ao ver todos os conceitos que teria que aprender foi simples: fechar a aba do meu navegador e pensar ‘Ok, esse problema não é comigo’. Mas a inquietude não me deixou desistir.

Nos filmes e histórias, esse é o ponto em que o herói reluta em vista a uma grande mudança ou desafio. É também o ponto em que encontra seu mentor.

Como exemplos de mentores na ficção, posso citar Ben Kenobi, Dumbledore, Gandalf e Yoda. A vida real foi um pouco menos romântica: meu mentor foi a internet.

Investi meu tempo e dinheiro (20 reais!) em um curso online na Udemy e leituras sobre como fazer um aplicativo da forma que eu queria.

Obs: Recomendo demais esse curso para quem quiser iniciar na área de desenvolvimento de apps.

Assim que chegava em casa do trabalho, já abria o computador e iniciava minha jornada de aprendizado. Foi um processo de meses até conseguir enfim colocar o aplicativo para funcionar. Passei as férias escolares inteiras trabalhando nele, todos os dias, para que quando as aulas voltassem estivesse pronto para uso. Consegui, que sensação incrível de realização!

2ª Lição – Motive-se para aprender.

Obrigatoriamente você terá que aprender algo novo para conseguir sua recolocação profissional. As oportunidades de aprendizado hoje estão disponíveis para todos. Basta usar o nosso navegador e temos facilmente conteúdo bom sobre qualquer coisa. Mas o aprendizado pode ser frustrante, cada novo conceito apresenta muitos outros que teremos que aprender.

Lembro que passei dias tentando programar ações que hoje eu levo minutos. Não há atalhos. Aprendizado leva tempo e demanda disciplina. Manter-se motivado em aprender uma nova habilidade que não diretamente vai ser aplicada a seu dia-a-dia é muito difícil, por isso crie mecanismos para motivação.

Uma opção é criar pequenos desafios, pequenas tarefas que marquem sua evolução no novo conhecimento. Um exemplo simples foi quando consegui cadastrar alunos no meu computador e listá-los no meu celular. Foi uma grande realização! Me senti um hacker pronto para programar o novo supercomputador da NASA.

Depois disso, meus desafios foram: guardar avaliações, permanência de dados offline e etc. Trace uma rota entre onde está e o que deseja aprender e coloque os pequenos checkpoints de realização para manter-se motivado.

Cruzamento do limiar

Até então, eu busquei fazer o aplicativo para utilizar na escola como professor. Após conseguir colocar o app em funcionamento, fui conversar com meu gestor.

Imaginei que teria uma reação como “Uau! Que realização! Tome aqui esse aumento e essas novas oportunidades!”, mas no final foi algo do tipo “Puxa, interessante. Então, como está o nado dos alunos?”.

No final, minha função era avaliar o nado dos alunos, e meu gestor tinha apenas essa expectativa sobre mim. O feedback me incomodou muito, percebi que eu na verdade estava querendo uma nova profissão, buscando me recolocar profissionalmente.

Testes, aliados e inimigos

Comprometido em mudar de profissão, comecei a conhecer o mercado de trabalho para programadores. Felizmente descobri que há muitas vagas e oportunidades, especialmente na região onde eu morava. Já fiquei motivado. Fui então preparar o meu currículo.

Como você pode imaginar, não foi simples relacionar todas as minhas experiências na Educação Física com vagas como programador. Escrevi um currículo com uma carta de apresentação, pensando que assim eu teria mais chances de conseguir a atenção de alguém. Depois de diversos envios, nenhuma resposta. Nada.

Claramente o método comum de procurar emprego não seria eficiente para a minha recolocação profissional. Pesquisa vai e vem e descobri plataformas de recrutadores voltadas especialmente para profissionais na área de tecnologia (Revelo, ProgramaThor e GeekHunter). Essas plataformas oferecem um teste técnico e depois autorizam seu cadastro. Ou seja, elas dão uma chance de você provar que sabe algo antes de julgar seu currículo. Fiz o teste e falhei. Aprendi, estudei mais, fiz uma outra tentativa, falhei. Mais estudos, mais esforço e então… passei! Essa foi minha chance e eu a agarrei com unhas e dentes. Montei meu perfil na GeekHunter da melhor forma possível. Agora era só aguardar uma oportunidade.

3ª Lição – Conheça o mercado onde quer entrar, e seus aliados para a recolocação profissional.

O mercado de trabalho das diversas áreas possuem muitas especificidades, vai levar tempo para você aparecer de forma atrativa para um recrutador sem alguma ajuda. No meu caso foi na GeekHunter onde eu encontrei essa ajuda e eles se tornaram meus aliados na busca por uma vaga. Mas para você pode ser uma outra empresa de recrutamento, um recrutador, um amigo mais experiente na área, enfim, alguém que te auxilie a se vender da maneira correta! Não teria sido possível encontrar a vaga na Ploomes de outra forma, simplesmente eu não conseguiria a atenção deles.

Recolocação profissional é também saber mudar a forma de se colocar no mercadoProvações e aprendizados

Primeira entrevista. Fui chamado para participar de um processo seletivo em uma grande empresa de marketing e publicidade. Eles trabalham com clientes gigantes como Pepsi, Nike, Nubank… era o sonho!

Ao chegar no escritório, me senti em casa, tudo certo. Após uma entrevista de cerca de 30 minutos, dos quais grande parte foi pra explicar como um professor de educação física sabia programar, voltei pra casa animado. E não tive nenhuma resposta. Nada. Nem um ‘infelizmente o seu perfil…’.

Outra entrevista, agora em uma empresa de software cujo nome não mencionarei. Estavam trabalhando em um projeto novo que acreditavam ser o novo santo graal. Fui chamado por um dos sócios, e minha entrevista seria com ele e com o responsável técnico.

Ao chegar na sala de reunião o responsável técnico nem olha para mim. “Por que você trás esses candidatos? Só faz a gente perder tempo!”. Por falta de alinhamento entre dois sócios tive que ouvir coisas como “Não sei se você um dia será programador”, “Estamos perdendo tempo aqui”. Resumo de tudo, 5 minutos de entrevista e um sentimento de derrota total.

E esse foi o pior momento da minha busca por recolocação profissional: Perceber que o mercado não está educado ainda para lidar com quem busca mudanças e não sabe valorizar um perfil empreendedor acima de outro com 10 anos fazendo o mesmo processo sem pensar. Quase desisti.

4ª Lição – Você terá que quebrar paradigmas.

Uma mudança grande como ir de Educação Física para Desenvolvimento Mobile não poderia ocorrer sem cruzar com portas fechadas e paradigmas antigos. Não importa para qual área você esteja migrando, você certamente será questionado quanto a validade e plausibilidade de sua mudança.

Esteja pronto para receber golpes, baixos talvez, para medir o quanto realmente deseja a mudança. Este é um ótimo momento para testar sua resiliência, sua capacidade de seguir em frente mesmo com as pancadas da vida.

Cabe aqui uma recomendação de um excelente livro sobre resiliência, “O velho e o mar”, de Ernest Hemingway. Se você está nessa fase em sua recolocação profissional, de portas fechadas e paradigmas contrários, esse é o livro para seu momento.

De volta à estrada

Decidi tornar as experiências malsucedidas em entrevistas em oportunidades de aprendizado. Percebi que, após ter terminado o aplicativo para a escola, eu comecei a querer aprender tudo de todas as áreas, sem um foco específico, mais uma oportunidade de autocrítica.

Dei então um tempo na busca ativa por oportunidades e foquei em estudar e me tornar especialista em React Native. Ia me preparar para a oportunidade correta, e não para qualquer oportunidade que surgisse.

Mais um momento onde foi necessária disciplina: ou eu estava trabalhando na escola, ou estava em casa me especializando. Criei diversos mini projetos: um chamador de filas de restaurante, um placar para um jogo de tabuleiro, um aplicativo para um profissional de fotografia divulgar seu trabalho… Eu ia conseguir minha recolocação profissional nem que eu tivesse de criar minha própria empresa para fazer isso.

Ressurreição e Retorno com Elixir

Certo dia no LinkedIn vejo um anúncio de vaga da GeekHunter procurando um programador mobile para trabalhar com React Native na região em que eu morava. Era minha oportunidade, essa era minha vaga. Na hora entrei em contato com o primeiro contato da GeekHunter que encontrei no linkedIn e pedi para que eles me indicassem para aquela vaga. Depois, curiosamente percebi que o contato era o CEO da empresa. Muito cordialmente ele pediu para eu deixar meu perfil pronto pois iriam reforçar meu interesse com a empresa. Meu perfil já estava pronto, eu realmente estava preparado dessa vez. Em menos de 2 horas estava com a proposta da Ploomes para comparecer a uma entrevista.

O processo seletivo da Ploomes foi rigoroso, com direito a uma prova técnica de cerca de 1 semana de duração. Foi uma semana de noites viradas e muito trabalho, mas eu estava pronto, a vaga era minha. Minha recolocação profissional finalmente havia chegado.

5ª Lição – Espere pela oportunidade correta e esteja pronto para ela.

Buscar pela recolocação profissional é como achar uma agulha em um palheiro. Há muitas oportunidades no mercado que podem te chamar atenção, mas que não são ideais. Claro que você deve participar do máximo de processos seletivos que puder para ganhar a experiência e os feedbacks construtivos dos recrutadores. Mas você deve se preparar e se tornar irresistível para uma vaga específica. No meu caso, eu sabia que conseguiria brigar por qualquer vaga em que estivessem buscando por um programador React Native. Já estava há quase um ano estudando a tecnologia todos os dias e dominando pormenores.

Você deve encontrar um nicho para o qual possa direcionar o seu perfil. Ao encontrar esse nicho deve fazer de tudo para se tornar o melhor candidato. Cada área tem suas especificidades, cabe a você aprender a se encaixar de forma ‘irresistível’.

Tudo de novo?

A beleza da comparação com a jornada do herói é que essa jornada na verdade é um ciclo. Desde que entrei na Ploomes diversas vezes foi necessário refletir sobre minha atuação, aprender coisas novas e me preparar para suprir as demandas internas. Nada tão drástico como na minha recolocação profissional, mas, será que essa capacidade de reinvenção não é exatamente o que me torna um melhor profissional?

Hoje, a cada virada interna aqui, a cada restruturação de algum processo, a cada mudança que temos que fazer no app, busco repetir essas lições que compartilhei com vocês. Passar por uma recolocação me ensinou a ser um profissional mais resiliente, forte e proativo.

6ª Lição – Nunca pare de evoluir.

Quando recolocado, você será exposto a diversas situações em que será necessário se reinventar. Mas, parabéns, você já fez isso antes, será mais fácil fazer novamente.

Continue estudando, continue evoluindo. Seja ambicioso em sua nova carreira, não pense que porque você veio ‘de fora’ que esse ambiente que conquistou não te pertence. Nós que passamos por recolocação profissional tivemos que provar muitas coisas antes mesmo de conseguir nossas vagas, então agora é hora de usar isso para crescer e empreender dentro da área escolhida.

Essa foi minha experiência de recolocação profissional. Algo que mudou minha vida e me tornou um melhor e mais completo profissional.

Teria sido mais fácil buscar a programação desde que entrei no mercado de trabalho? Talvez, mas eu não seria metade do profissional que sou hoje sem o processo de recolocação que passei. Desejo a você, que está nesse caminho, muita sorte, disciplina e foco. E que termine sua jornada como o seu próprio herói.

Excelsior!

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